A Civilização Egípcia e o Mar

Instalada no extremo nordeste da África, em região desértica, a civilização egípcia floresceu às margens do rio Nilo, beneficiando-se de seu regime de cheias. As abundantes chuvas que caem durante certos meses do ano na nascente do rio, ao sul, nas terras altas do interior do continente africano, provocam o transbordamento de suas águas e o consequente depósito de humus, fertilizando suas estreitas margens. Ao final do período de cheias, o rio volta ao seu leito normal e as margens, naturalmente fertilizadas, tornam possível uma rica agricultura.
Contudo, diante do aumento populacional que aconteceu durante a epopéia neolítica, faziam-se necessárias obras hidráulicas, como a construção de diques e canais, para o cultivo agrícola. Estudos e pesquisas arqueológicas e históricas apuraram que a organização do trabalho às margens do Nilo, a construção de diques e outras obras hidráulicas coube inicialmente às coletividades locais e regionais conhecidas como nomos e mais tarde foram articuladas a uma estrutura govemamental central mais complexa. Ao longo da história egípcia, a organização político-social estruturou-se em torno da terra e dos canais de irrigação, tendo o Estado despótico o cotrole de toda a estrutura econômica, social e administrativa. Por meio de suas instituições burocráticas, militares, culturais e religiosas, o Estado subordinava toda a população e garantia a realização das obras de irrigação.
Juntamente com seus cereais que em período de escassez eram solicitados pelos países vizinhos, fornecia o Egito uma série de produtos artísticos, dando com isso potente estímulo ao comércio. Como o Nilo era navegável, mesmo no período de seca, e os canais que sulcavam o país contribuíam para intensificar o tráfego, explica-se a existência de um animado tráfego interior cujo centro foi Pelúsio, cidade solidamente fortificada que ficava perto da fronteira oriental. O tráfego marítimo teve, em compensação, escassa importância durante a epopéia dos faraós. As costas desprovidas de abrigos e perigosas para a navegação, a falta de madeiras e os preceitos sacerdotais que predicavam a aversão ao mar, serviram de estímulo para a repulsa que esse povo de agricultores sentia pela água. Entretanto, o governo interveio por diversas vezes no comércio por meio de expedições navais em que o faraó tomava a iniciativa, com o fim de estabelecer relações diretas de troca com os países do Ponto (ponto Euxino ou Mar Negro), situados na Arábia Meridional e pátrias do incenso, produto então muito procurado.
Semelhantes expedições, determinadas pelos faraós e organizadas pelo Estado, foram, sobretudo, frequentes durante a XII e XIII dinastias. Depois da instalação da Nova Monarquia, o tráfego pelo mar Vermelho, quase completamente interrompido sob a ação dos Icsos, retomou, graças ao poder real, com uma força e um arrojo até então desconhecidos. As expedições marítimas multiplicaram-se, sobretudo devido à iniciativa dos faraós da XVIII dinastia, ao mesmo tempo em que aumentavam as trocas com a Nubia. Esse período foi conhecido como Renascimento Saita, devido a capital passar a ser em Sais, e a expedição mais importante foi favorecida pelo Faraó Necao, onde navegadores fenícios fizeram o périplo africano. ou seja, contornaram todo o continente africano a partir do mar Mediterrâneo até alcançarem o Mar Vermelho Oriental da África, feito este só repetido vinte séculos mais tarde por Vasco da Gama, em 1498, partindo de Lisboa.
As referências feitas por Plutarco e por outros historiadores ao número de navios queimados pelos soldados de Júlio César em Alexandria, durante a conquista romana, e as forças navais de Antônio, na guerra contra Augusto, mostraram não terem sido pequenos os recursos do Egito no mar, malgrado o caráter terrestre de seu povo. Em suma, o Egito antigo caracteriza, sob o ponto de vista marítimo, como uma nação continental que se desenvolveu inicialmente livre da intluência das rotas oceânicas e que, por força do próprio progresso, foi levado a participar cada vez mais das atividades nos mares. A evolução egípcia exemplifica também a tendência dos povos interiores buscrarem a saída livre das rotas marítimas, como decorrência inevitável do seu desenvolvimento.
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